quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O gaúcho que viu o que tinha

Já cansado destes pagos
E dos andrajos pampeanos
Dos bons mates amargos
E dos bravos paisanos
Selou um dos baios passilargos
Amigos de vários anos
Se despojou dos cargos
E teceu sonhos urbanos

Mas não largues desta terra vivente
Apesar de teus sonhos araganos
Esqueça esse desejo latente
Lhe disse a cigana com seus feitiços arcanos
Pois já o trigo dourado reflete o sol do ponente
E a lua vem para banhar os campos
Veja que bela a estrela cadente
E a dança dos pirilampos

Seguindo então os presságios antigos
O gaúcho viu que tudo tinha de belo
Abraços, sorrisos e abrigos
Que cada aperto de mão fazia um elo
De sua extensa corrente de amigos

Assim venceu seu próprio duelo
Ficou e viveu enormes perigos
Edficou-se a cinzel e martelo
Encontrou o amor em olhos índigos
Fez do rancho o seu castelo

E dos sonhos criou realidade
Da velha figueira fez cenotáfio
Do incerto tirou a verdade
E do sopro do vento epitáfio

domingo, 2 de outubro de 2011

Enquanto a Noite Vem

Enquanto a noite vem
E realça o perfume das mágoas
Enquanto o sol se vai
E se apaga em ponentes águas
Eu sigo ex-hiperbóreo
Sem encanto e sem corcel
Sem um manto sobre os ombros
Com as amadas estrelas do céu
Sem ouro e sem cobre
Não sei distância nem valor
De alma rica e couro pobre
A esperança é meu calor
E quando a noite vai
Eu me vejo como sol
Toda dor também se vai
E brilha forte o arrebol
Arrebol de um novo dia
Novo dia pra enfrentar
Novo destino nova via
Nova chance de sonhar!

sábado, 1 de outubro de 2011

Verdade

Encanto de noite plena
Fulgura o findar da aurora
Enquanto jaz serena
A bélica voz de outrora

Já não se tem mais certeza
Já não se sabe a idade
Não mais se conhece a beleza
Não mais existe verdade

Existem só ecos distantes
Somente áureas lembranças
Não mais os povos grimpantes
Que giraram rodas de mudança

Quem procura a verdade
Da boca de quem venceu
Conhece vis desparates
Sobre o inimigo seu

Quem busca conhecer o passado
Através das vozes derrotas
Conhece um povo alado
E sendas estreladas

Quem busca a história
Pura e propriamente viva
Não precisa de memória
Pois se ela existe é cativa

Se quiser conhecer a história
Construa com tua vontade
Tendo por sina a vitória
E das estrelas saudade

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Transversal

Existe uma coisa no mundo
Uma coisa e nada mais

Que brilha como a luz da lua
Uma coisa e nada mais
Etérea e leve fulgura
Rápida e fugaz
O que é, o que é?

Uma coisa e nada mais
Mentira não é

Sereno caiu tranquilo
Ontem raiva hoje suspiro
Rio turbulento se fez tranquilo
Raro e claro como espelho
Irradia luz e encanto
Somente isso por enquanto
O que mais poderia ser?

Terá que adivinhar
Espero que descubra
Uma vez que quem ganha sou eu

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Allouette

Somente abra a concha e veja a verdade
Rindo, uma linda voz soa sozinha
Tal quel uma cotovia ao raiar do dia
Apenas pensando que não é bela

Dilema entre realidade e sonho
A balada que vem com o vento
Nas noites de frio, aquece
Inverno se faz ameno

Perene encanto
Apenas em instantes
Rápido e fugaz
Apenas incrível 
Belo, imperdível
Enaltece o luar
Nas noites serenas
Sereia à cantar

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Ocaso

Dor que aflige o peito
Lúgubre cupim vermelho
Que me infesta desse jeito
E tanto me faz pensar

Não busco nenhum espelho
Não busco nenhum indício
Procuro respostas só isso
E um resquício de sol

Alguns erros não tem perdão
O que desaponta o coração
E umedece o olhar
Aflige mais a quem comete

É noite  é escuro
Eu existo atrás de um muro
E no ocaso a imensidão
Pinga pinga
Pinga gotas
Pinga sangue o coração

sábado, 28 de maio de 2011

Do Inferno ao Parnaso

Estrela, entenda
Amar rio ou lago
Não é desgostar
Do teu vôo perene
Do teu nome, Selene 
Nem do teu brilhar

Amar rio ou lago
É a forma incerta
Angular e inexperta
De aliviar o que aflige
Castiga e atinge
E tira o meu chão

É fonte que tenho
Meu lume e meu lenho
De através de um desenho
Te ver no cristal
Em límpida água
Ou então retalhada
Pelos troncos e troncos
Do velho juncal

Te levo no peito
No olhar e na mente
Me convida a serpente
Para um beijo final
Não aceito, pois sei
Que no lago profundo
Vazio e rotundo
Não te encontrarei

Em noites serenas
Distantes e plenas
Tuas irmãs pequenas
Eu vejo brilhar
Em noites chuvosas
Frias ventosas
Das eras ditosas
Me ponho a lembrar

Estrela eu sei teus abrigos
Conheço os perigos
Sei de muitos perdidos
Nessa procissão
Peço ajuda e apoio
E estendo a mão
Quando sem espereanças
Me prosto no chão

Quando à noite fatigo
Sei que guarda contigo
Um eterno brilhar 
Que encanta meus olhos
E vale mais que os espólios
Que no céu ou na terra
Eu possa encontrar

No compasso do vento
Deixo o meu pensamento
Livre a voar
Passo a passo
Tentando chegar
Do inferno ao parnaso
Sem me disperçar

Aguardo Euro ou Austro
Para sair do claustro
E virar imensidão
Aguardo Zéfiro ou Bóreas
E no vazio das horas    
Estrela...
Te admiro do chão

domingo, 8 de maio de 2011

Guarida

Num arroio bonito ao sul do Rio Grande
Toda minha tropa  eu fiz apear
No chão bagagem, na mão o mate
No olhar imagem de não acreditar

O campo verde, o povo amigo
Soja, milho e trigo para semear
Coração puro, amor verdadeiro
Mais de mil janeiros cá hei de ficar

Criar cavalos, ovelhas e gado
E pedra por pedra eu erguer meu lar
Guardar esporas e prender correntes
Junto dessa gente de se admirar

Porteira aberta à espera de amigos
E também da dona da minha paixão
Morena linda de olhar verdadeiro
Que tem por paradeiro o meu coração

O cheiro amargo de uma cuia plena
E a lua serena a boiar no céu
O vôo baile dos mil pirilampos
E o sereno branco caiando o chapéu

O sol trigueiro brilha no horizonte
Desta terra fonte de tanta alegria
O tempo passa deixando saudades
Do nascer até o findar do dia

sábado, 30 de abril de 2011

Fim de Abril

O destino é uma página em branco
Um barco a deriva na eternidade
É um encontro acidental
Uma surpresa de verdade
Há quem diga que o destino existe
Há quem diga que é pra ser
Mas tem aquele que não resiste
Aquele que paga para ver
Destino se faz sozinho
Mas em um céu de estrelas mil
Por que seguir um só caminho
Neste fim de abril?

Saudade

Saudade é tudo que resta
Daquilo que um dia já foi
É uma flor seca em um livro
Um resto de brilho no olhar
É um aroma que já não sentimos
Um sonho que não podemos sonhar
Uma chaga aberta no peito
Com bandagens de boas lembranças
A saudade que não tem jeito 
É suplantada pela esperança
Esperança irmã da certeza
Certeza de um dia voltar
Voltar a ver um sorriso
E o sorriso de novo brilhar

terça-feira, 26 de abril de 2011

Sonhar

Sonhar
Um barco para navegar
Algo para ir  buscar
Alguém para admirar
Gigantes para enfrentar
Sair e entrar no mar

Asas para voar
Casas para voltar
Uma flor para amar
Motivos para cantar
Uma chance de tentar
Silêncio para pensar

Um amor para guardar
Um olhar para ganhar
Uma voz pra escutar
Uma mão para segurar
Um beijo para roubar
Um perfume para lembrar

Sonhar
Sonhar
Sonhar
E mais nada

sábado, 23 de abril de 2011

Espelho

Com tantas outras flores na terra
Por que achas que escolheria você?

Não és estrela senhorita
Pra eu ir te procurar
Muito menos sou objeto
Para você ostentar

Não tens nada que preciso
Nada em ti irei buscar
Já então não necessito
Que procures meu olhar

Se me tens por tolo
Tola é
Pensava me olhar de cima
E era eu a estar de pé

Sua distância quem dera 
Me mostrou  a verdade 
Não é teu dom com certeza
A sinceridade

Um sinal e só isso
Já não mais perco meu tempo
Me terás omisso
E por fim
Bruma e vento

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Hibernum

Frio intenso
Não sou
Não penso
Gelado e denso
Chegou

Sem blusa
Sem lenço
Se perco ou
Se venço 
O inverno imenso
Vingou

Teu olhar propenso
Era frio suspenso
Já não te pertenço
Condenso
Me vou

quinta-feira, 21 de abril de 2011

O Rei e o Lago

Um risco em branco
Um céu em pranto
E em seu canto
Um beija flor

Um rei sem manto
Um sábio e tanto
Admirando
O sol se por

O lago profundo
O sol rotundo
Esconde do mundo
Tal pescador

O céu brilhante
Oh diamante
Diz radiante 
O rei sonhador

Um cavaleiro
Que cavalheiro
Está primeiro
Ao teu dispor

Um forte vento
Deixa ao relento
Um fragmento
De velha dor

Paixão antiga
Muito sofrida
Ainda tem guarida
No coração

Uma nova chance
O último lance
Chega ao alcance
Do sem amor

Uma pétala nova
Uma frágil prova
Ao pé da cova
Um renascer

A lua aponta
No faz de conta
E já traz pronta
Num belo véu

Alva princesa
Já sem tristeza
Sem realeza
E sem corcel

Com gentileza
Simples beleza
A sutileza
De um olhar

O rei entende
E já atende
O amor latente
Sem esperar

Larga o ouro
O vão tesouro
Mas leva o louro
De um bom reinar

Mãos apertadas
Almas atadas
Porta fechada
Coroa no mar

Juntos se deitam
Unidos espreitam
E acalentam
Um novo despertar

Alea jacta est

Pois é, a sorte está lançada, a roleta continua girando e o blog finalmente está na rede!!!!